Mário, sai do armário!

Hello, people!

Ontem eu e a D viajamos cerca de 50 Km, ida e volta, só para jantar a melhor pizza de Pepperoni que a gente já comeu. Vou dizer, vale a pena, mesmo com a gasolina a R$ 3,00. Enfim, fomos e foi ótimo. Não escondemos que somos namoradas, nos abraçamos e demos beijinhos como qualquer casal, e fomos super normalmente atendidas pelo pessoal. Yay!

O que é totalmente diferente de uma lanchonete titica que fomos mês retrasado, em que o garçom me tratou com um super deboche quando eu disse que sim, tinha acompanhante – a minha namorada que tava no banheiro. Junto com o bêbado idiota da mesa do lado que derrubou nossa cerveja (no meu colo) e não se deu ao trabalho de se virar e pedir desculpas, e o lanche meio comido de alguém que embrulharam para a viajem ao invés do resto das batatas fritas que pedimos (acredito que de proposito, porque eu vi os garçons conversando e apontando pra gente na hora), foi a pior saída pra lanchar que a gente já teve até agora. Fiquei tão indignada quando eu vi o lanche meio comido de um estranho no lugar das batatas, no outro dia, que coloquei cocô de cachorro na caixinha dele e deixei na porta da lanchonete mais tarde, antes de eles abrirem. Não foi a coisa mais bonita que eu já fiz na vida, tudo bem, mas cara como eu fiquei puta da cara! Nunca me senti tão orgulhosa do cocô fedido do meu pastor alemão como naquele dia. Pensando bem devia ter colocado o da gata, por que por incrível que pareça aquela coisinha consegue feder mais. Ou os dois juntos, quem sabe.

Enfim, foi horrível.

Tava relendo o post anterior da D e me lembrando da minha adolescência também, quando ser gay para mim não era nem uma opção e eu ficava com guris por que achava que devia ser assim. Era tipo uma sensação de dever, “fique com garotos, como todas as garotas!”, mas cara, aquilo não me dava tesão. Só fui sentir tesão de verdade a primeira vez que eu beijei a D, e eu tinha já uns 18, 19 anos na cara, eu acho. E fiquei horrorizada, ao mesmo tempo, por que eu realmente vinha passando por uma fase religiosa que me fez sentir como se eu tivesse comprando um bilhete de passagem pro inferno. Ah, as coisas que enfiam na nossa cabeça. Inacreditável.

Era a melhor sensação que eu já tinha tido na vida, estar com a D, mas eu estava mortificada de achar que vinha fazendo alguma coisa que parecia supostamente tão errada. E respingos dessa época ainda existiam dentro de mim até ano retrasado, quando começamos a namorar sério, e até eu entender que a vida é feita de amor, não de regras e dogmas, custou para eu conseguir me sentir realmente bem.

Meu pai ficou chocado quando eu contei. Ele disse que me apoiava, que queria que eu fosse feliz, talvez ele tenha achado que era uma fase, sei lá, mas sei que no começo foi difícil para ele aceitar aquilo. Hoje em dia está tudo bem, mas no começo minha madrasta precisou conversar muito com ele para que ele realmente aceitasse e entendesse. E entre ele ter priorizado minha felicidade, e minha madrasta ajudar a fazer essa conciliação dentro dele entre quem eu era e quem ele esperava que eu fosse, eu sou grata pela facilidade com que as coisas aconteceram lá em casa. Digo, foi complicado, sim, o começo, mas minha colega de serviço e amiga de alguns anos estava agorinha mesmo me falando sobre uma prima dela que contou para os pais que tinha uma namorada e eles trancaram ela no quarto e esconderam o celular. Senhor senhor senhor. Senhor.

E quando eu disse que o homossexualismo para mim não era nem opção eu realmente quero dizer isso. Cresci com minha mãe até os 15, que foi quando não aguentei mais nossos desentendimentos e fui morar com meu pai, e o sentimento que me lembro hoje de ter na época sobre a homossexualidade era o de que era alguma coisa quase abominável. Não era algo que nem se discutia na mesa, era algo para o qual se virava a cara. Então ficar com garotos, gostar de garotos, não era nada mais que natural, e eu não percebia que pra mim também não era nada mais que obrigação. Eu tinha que seguir o livrinho da sociedade, todas as regras dele. Cantar exatamente a mesma música. Era simplesmente a coisa “certa” a de fazer. Meu deus, quanta ansiedade seria poupada se eu não viesse desse ambiente de negação. Era uma vida que se vivia para o outro, não para você mesma. Desde a roupa que se vestia, a maneira que se falava, desde o que se deveria pensar sobre as coisas… Nada era seu, era tudo já pronto, tudo senso comum.

Foi chocante me apaixonar daquela forma pela D. Foi louco, balançou todo o meu mundinho pequeno. Foi o que me poupou de ter uma vida ordinária, de pensamento pequeno. Salvou toda a minha alma de crescer confinada numa vida roubada, talvez noiva de alguém que eu me sentia obrigada a amar. A D salvou meu traseiro com a insistência dela, por que, e não é sem certa vergonha que, eu admito que sempre fui um tanto covarde quando se trata de encarar as ditas regras da sociedade, já que foi o ar que eu cresci respirando. Não é algo que eu fazia sem ansiedade, tão grande foi meu “adestramento” quando eu era pequena.

Mas viva a D e sua alma alternativa. Os olhos dela brilham com todas as cores do arco-íris! (O que quer que isso signifique).

Então, para todos os gays no armário, com medo de “pisar fora da linha” e ser quem realmente são, meu único conselho é que, por mais que seja difícil pra caralho às vezes estufar o peito e se admitir diferente, a gente só é feliz quando se permite ser exatamente quem quer ser, então ao invés de viver a vida que os “outros” esperam que você viva, escolha você mesmo, como a D disse, por que no final das contas ninguém tem nada de diferente realmente, somos todos iguais. Portanto, Mário, sai do armário!

– J.

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